Momento do empreendedorismo digital no Brasil

Estamos em uma ótima fase no Brasil. Há muitos negócios saindo do papel e muitas pessoas dispostas a ajudar. O verdadeiro empreendedorismo finalmente está se enraizando pelo país e definindo como empreendedor não apenas aquele que colocou um site no ar ou copiou um modelo que deu certo nos EUA ou Europa, mas, sim, aquele que sabe executar uma ideia.

Este post é uma resposta à reportagem da Época Negócios intitulada “Classe de 2011: A segunda geração de empreendedores digitais brasileiros tem mais dinheiro à disposição e projetos mais bem estruturados – mas ainda sofre da mesma falta de experiência e ideias originais”. Vou tratar estes dois pontos: falta de experiência e ideias originais. Mas antes, vou comentar sobre o dinheiro disponível.

Investimento

Alguns anos atrás, além dos altos preços para se levantar um negócio digital, tínhamos no Brasil apenas iniciativas como PIPE (Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da FAPESP) e PRIME (Programa Primeira Empresa Inovadora, da FINEP) e poucos investidores. Mas desde o ano passado temos visto algumas iniciativas de empresários brasileiros para melhorar este cenário. E juntem-se a isto os investidores do Vale do Silício que estão se aproximando dos empreendedores brasileiros para investir em terras tupiniquins.

Alguns exemplos são o fundo formado por empresários participantes do grupo Unicamp Ventures, o Desafio Buscapé que irá investir R$ 300 mil em uma empresa, os eventos organizados por Renato Steinberg da startup ByMK e pela Bedy Yang para colocar startups brasileiras em contatos com investidores estrangeigos.

Quando falamos que há mais dinheiro disponível, não significa que há dinheiro sobrando. Não é porque investidores do Vale do Silício estão olhando para o Brasil que basta ter uma ideia e pronto, irá chover dinheiro. O que há são mais opções – como comentei, antes era apenas PIPE, PRIME e alguns investidores anjo.

Além disso, conseguir investimento não é tão simples quanto parece. Vender uma ideia nunca é simples, mesmo para alguém que tenha alguns milhões de reais disponíveis. Se você quer ser empreendedor, não se deixe iludir e prepare-se para ralar muito.

Falta de experiência

Os empreendedores estão cada vez mais jovens. Alguns nem chegam a concluir o ensino superior e já investem em um negócio digital próprio. É natural que estes jovens não tenham a experiência necessária para tocar um negócio. Mesmo os que chegam a se formar numa universidade e passam por organizações como Empresas Juniores e Aiesec, ou que participaram de diversos eventos de empreendedorismo organizados pelo SEBRAE ou pelos próprios alunos da universidade não estão totalmente preparados para ganhar o mercado com sua startup.

Mas vamos com calma. Até onde a falta de experiência é um problema?

Vejo dois caminhos possíveis para quem deseja empreender no meio digital:

1. Escrever um Plano de Negócios e submetê-lo para programas de fomento como PIPE e PRIME recebendo, em caso de aprovação, auxílio necessário para tirar a ideia do papel.
2. Cair na estrada e sair fazendo – o preferido hoje em dia – e, depois, com o protótipo em mãos e muitas vezes já com usuários ou clientes, procurar conselheiros e mentores que possam orientar nos próximos passos.

Em ambos os casos, a falta de experiência dos jovens empreendedores é suprida por terceiros. E é por isto que discordo da reportagem da Época Negócios.

Mesmo que o empreendedor digital seja tão cru a ponto de nem saber o que é uma startup, há programas de mentoria como o da Aceleradora que visa capacitar empreendedores, ajudando-os a transformarem suas ideias em negócios viáveis e capazes de receber investimento, e iniciativas como o Conselho de Startups que provê o casamento entre empreendedores e conselheiros (empresários de sucesso) que contribuem com sua experiência para viabilizar o negócio.

Também existem oportunidades de receber feedbacks, consultoria e mentoria através de iniciativas como o Desafio Brasil, uma plataforma de lançamento de novos negócios, avaliando e premiando startups.

E, se você mostrar a sua cara em eventos como o Startup Weekend no qual o network entre empreendedores e mentores é muito intenso e correr atrás de potencias parceiros para o seu negócio, a chance de encontrar pessoas que acreditam na sua ideia e se interessam em contribuir como parceiro ou mentor é enorme.

Os jovens estão começando a empreender cada vez mais cedo e os empresários de sucesso querem e estão participando do surgimento de novos negócios. Enquanto alguns preferem dizer que há dinheiro disponível, eu digo que há pessoas dispostas a ajudá-lo só esperando pelo seu contato. E não é só ajuda financeira, mas sim quanto ao seu modelo de negócio, a melhor ajuda que você pode vir a ter.

Cito como exemplo o caso da nossa startup MeuCarrinho. Colocamos o protótipo no ar em abril e desde o começo do ano começamos a correr atrás de pessoas que pudessem nos auxiliar. Hoje estamos com conselheiros e mentoria, sem falar dos contatos com potencias clientes e parceiros. Já recebemos feedbacks de diversas pessoas e empresas de diferentes áreas do mercado e continuamos aproveitando as oportunidades que aparecem.

Hoje só sofre por falta de experiência quem desiste no meio do árduo caminho que é ter um negócio próprio. Não se deixe enganar achando que tudo é fácil só porque você pode começar seu próprio negócio da sua casa e sem gastar praticamente nada.

Falta de ideias originais

O digital não é diferente do real. Se uma ideia sair do papel e der dinheiro, é natural que surjam concorrentes. O Google não foi o primeiro site de busca do mundo, mas hoje é o número um. O Windows não foi o primeiro sistema operacional, mas hoje domina o mercado. Nem sempre quem sai na frente com algo original oferece o melhor produto e serviço.

Sendo assim, não há problema algum em basear-se em um produto ou serviço que exista lá fora e enxergar uma oportunidade de trazê-lo para o mercado nacional. Se o nosso mercado precisa disto, nós, empreendedores, vamos abrir mão desta oportunidade porque a ideia já existe e foi executada no exterior?

Uma das características do empreendedor é estar sempre atento a ideias e oportunidades, buscando formas de agregar valor às pessoas e ao mercado. “Copiar”, neste sentido, é ser esperto. Que o diga Júlio Vasconcellos, fundador do Peixe Urbano. Ele é admirado não porque copiou o Groupon, mas sim porque conseguiu operacionalizar o modelo de compras coletivas aqui no Brasil. Assim como Fábio Seixas adaptou o Threadless e criou o Camiseteria e a Moip e o Pagseguro apostaram na adaptação do Paypal para o Brasil.

O que estas empresas brasileiras fizeram foi juntar algumas ideias e criar algo novo para atender a uma necessidade específica. Isto é um processo da inovação. Chamar os empreendedores brasileiros de não criativos é enxergar apenas o lado de cá da tela, deixando de ver toda a complexidade do negócio e a criatividade empregada em algorítimos, posicionamento no mercado e abordagem de clientes e parceiros.

O que faz a diferença é a capacidade de adaptação da ideia e a sua execução. Não é porque um modelo funciona nos EUA que vai funcionar no Brasil. Ele tem que ser adaptado, testado e validado no nosso mercado.

Não podemos generalizar a explosão dos sites de compra coletiva no Brasil para dizer que toda ideia que surge aqui não é original. O Videolog surgiu antes do Youtube, você sabia? Mas na época nenhum fundo de investimento olhou para ele, enquanto que o Youtube foi comprado pela Google e é o que é hoje.

Abaixo listo algumas startups que estão inovando no Brasil:

  • Boo-box: sistema de publicidade para mídias sociais;
  • ByMK: rede social de moda que permite criar looks com facilidade e compartilhá-los;
  • Empreendemia: rede social para acelerar negócios entre empreendedores;
  • Ningo: plataforma para pesquisar, comparar e comprar produtos de diversas lojas;
  • Sieve: plataforma online de monitoração de produtos;
  • Zuggi: buscador de internet para crianças.

Há diversas outras startups que você pode conferir na reportagem Negócios Digitais da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios deste mês. Mais uma vez, o sucesso não depende de ser o primeiro ou o original. Depende de saber executar dentro de um contexto específico. E para isto, meu amigo, criatividade é essencial. Portanto, há muitas oportunidades, pessoas dispostas a ajudar e ideias originais saindo do papel. Se você acha que o empreendedorismo no Brasil sofre de falta de originalidade é porque você está de fora. Mas ainda dá tempo de entrar ;)

Um abraço,

Danilo Campos no Blog E-social